Algumas pessoas são bruxas e podem lhes
fazer mal em virtude dessa qualidade intrínseca. Uma bruxa não realiza ritual,
não profere fórmula mágica, não emprega remédios. Um ato de bruxaria é um ato
psíquico.
Quando alguém olha para uma roseira em
flor e esta murcha em seguida, isso é bruxaria. Mesmo sem o agente causador
querer, ou por isso mesmo, é bruxaria. O mau-olhado é um exemplo corriqueiro de
bruxaria. Algumas pessoas fazem o mal sem querer, e até mesmo sem saber,
justamente porque são bruxas. O mau-olhado não é coisa-feita, não é feitiço
elaborado por feiticeiro- é ato de bruxaria. Já os feiticeiros realizam
conscientemente um ritual mágico, operam de modo instrumental com um know-how
conscientemente adquirido. A bruxa é. A feiticeira faz. Faz feitiço, pratica
feitiçaria, realiza rituais, prescreve receitas. Uma pessoa é bruxa de dentro
para fora, seu ser interior é o de uma bruxa. Tudo se passa como se um atributo
“sobrenatural” se tornasse “natural” ao seu portador. Não é simples habilidade
adquirida, qualificação técnica aprendida, mas uma possessão (de fora para
dentro) que se tornou segunda natureza, princípio intrínseco de operação (de
dentro para fora).
Feitiçaria é o desempenho consciente de
um ato tecnicamente possível, que tem a consequência imaginária de trazer o mal
a uma vítima. A feitiçaria, portanto, é o ofício da magia negra; pode ser
aprendida por qualquer um.
A bruxaria é qualidade inata da bruxa,
e todas as manifestações de bruxaria são intrinsecamente sobrenaturais.
Bruxaria é uma espécie de possessão; feitiçaria, uma espécie de profissão.